sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Formigas escravizadoras Formigas, assim como os humanos, são capazes de escravizar. Algumas espécies fazem da captura e trabalho forçado um estilo de vida.

Pesquisadores no século XVIII perceberam que alguns ninhos de formigas eram formados por mais de uma espécie, o que é muito estranho visto a agressividade das formigas com espécies invasoras. É só uma espécie de formiga encontrar outra para que haja um combate mortal ou então uma fuga mais que relâmpago. Em 1810, um pesquisador chamado Huber descreveu este comportamento, descobrindo que formigas de espécies dos grupos Polyergus rufescens eFormica sanguinea invadiam o ninho de outras espécies de formigas, matavam as operárias e roubavam ovos, larvas e pupas, levando-os para o seu ninho. Lá, estes imaturos emergiam e se comportavam como operárias da sua nova casa, das formigas Polyergus ou Formica, trabalhando em várias funções do ninho. 


Formiga escravizadora Polyergus rufescens (à direita) sendo alimentada pela escrava Formica fusca (à esquerda).
Foto: Nivaggioli Alan

Embora diferentes tipos de formigas escravizadoras possuem táticas um pouco diferentes, seu objetivo é o mesmo, colocar alguém para fazer o trabalho. Existem dois métodos distintos que as formigas escravizadoras usam para assumir uma colônia. O primeiro método é entrar no ninho, se livrar das rainhas e substituí-la por uma de suas próprias. Isto é feito de várias maneiras diferentes. Mais comumente, as formigas operárias escravizadoras invadem uma colônia de outra espécie de formiga, roubam os ovos e leva-os para seu próprio ninho. Ali, as larvas são alimentadas até virarem pupas, fase em que não se alimentam e sofrem metamorfose completa para ganhar a forma adulta. Ao fim desse período, surgem os adultos - as formigas escravizadas -, que nem notam que não pertencem à colônia onde estão e nem à mesma espécie das outras formigas. Tudo porque, após algum tempo, as formigas escravizadas já estão com o cheiro da colônia escravizadora (cada espécie de formiga e cada colônia têm um cheiro próprio). Assim, as formigas escravizadas passam a trabalhar para a colônia escravizadoras como trabalhariam para a sua própria colônia. 

O ápice do modo de vida escravizador é atingido pelas formigas do gênero Polyergus, um grupo totalmente escravagista, derivado diretamente do gênero Formica. Wheeler novamente descreveu muito bem o comportamento desta espécie: a operária é muito brigona e podem ser distinguida das outras formicinae pela sua mandíbula em forma de estilete, sem dentes, mas pequenos dentículos. Tais mandíbulas não são adaptadas para cavar na terra ou para manipular larvas e pupas de pele fina e movê-las pelas câmaras estreitas do ninho, mas são impressionantemente aptas a perfurar a armadura de formigas adultas. As Polyergusnunca escavam seus próprios ninhos ou cuidam da prole. São inclusive incapazes de obter sua própria comida, mas podem ingerir líquidos que entrem em contato direto com suas pequenas línguas. Para a comida, moradia e educação elas são totalmente dependentes das formigas escravizadas eclodidas dos casulos que elas pilharam. Sem estas escravas elas são praticamente incapazes de sobreviver e são sempre encontradas em ninhos com a arquitetura do da espécie com a qual estão misturadas. Quando estão no ninho, as Polyergusdemonstram dois comportamentos: ficam paradas, completamente imóveis, como se estivessem na maior preguiça, ou ficam pedindo comida para as escravas ou ficam se limpando. Mas uma vez fora do ninho, em suas expedições, elas demonstram uma coragem impressionante e uma ação coordenada comparada, especialmente comparada com a ação descoordenada dos ataques dassanguinea. As Polyergus são muito mais especializadas que as sanguinea, mas para atingir este estágio, se tornaram irremediavelmente dependentes e parasitárias das suas escravas. As colônias de Polyerguscostumam ter algo entre 300 e 500 operárias, podendo pilhar até 30.000 imaturos da formiga escravizada em uma temporada de ataques, sendo que só 1/3 destes chegam a crescer, muitos sendo danificados, pelas mandíbulas inapropriadas para este fim, durante o transporte. A tática de ataque da Polyergus é diferente da formiga sanguinea. Elas saem do seu ninho rapidamente, e correm até o ninho a ser saqueado, a uma velocidade de 3 centímetros por segundo. Quando chegam no ninho atacado, não hesitam como as sanguineas, mas entram de uma vez, pegam a prole e saem novamente, voltando para casa. Quando são confrontadas pelas operárias do ninho atacado, elas perfuram suas cabeças ou tórax, normalmente matando uma grande quantidade destas.

Rainha Polyergus rufescens e suas escravas Formica fusca.
Foto: Acideformik


Outro método usado por formigas escravizadoras é substituir a rainha da colônia cativa. A rainha de uma colônia escravizadora estabelecida irá produzir novas rainhas que saem da colônia para desenvolver a sua própria colônia. A jovem rainha escravagista acompanha as incursões de um grupo de formigas escravizadoras e espera do lado de fora da colônia a ser tomada. Quando as trabalhadoras escravizadoras invadem esta colônia para tomar os ovos, a rainha aproveita a batalha esgueirando-se para a colônia. Uma vez que encontra a rainha, mata ela e toma seu lugar. A nova rainha cobre seu corpo de feromônios da rainha morta e libera-os para as formigas presentes. Essa nova rainha, tendo acasalado com uma formiga escravizadora macho começa mais cedo a produzir novas formigas escravizadoras Outras variações sobre esses tomadas hostis incluem uma espécie sul-americana, cujos trabalhadores secretam uma substância química na colônia hospedeira que faz com que as formigas da colônia hospedeira evacuem o ninho. Em sua pressa para sair, pupas serão deixadas para trás. Estas formigas em desenvolvimento são, então, levadas de volta para o ninho das formigas escravizadoras Outra variação é de uma espécie Europeia que ataca formigas que são significativamente maiores em tamanho. A rainha invade um ninho agarrando à legítima rainha e lentamente sufoca-a até sua morte. 

Formigas escravizadoras Polyergus mexicanus(vermelhas) e suas escravas Formica argentea (pretas).
Foto: Alex Wild


As formigas escravizadas fazem de tudo: buscam alimento, dão de comer às rainhas e às larvas, limpam a colônia, protegem-na dos predadores... O curioso é que algumas espécies de formigas escravizadoras continuam fazendo essas tarefas que mencionamos, apesar de terem escravas para executá-las. Há aquelas, porém, que deixam tudo a cargo das formigas escravas e até já perderam a habilidade de fazer algumas ações, como cuidar da prole. No caso dessas espécies que “desaprenderam” algumas tarefas, as formigas escravizadas são extremamente importantes para o funcionamento da colônia. Afinal, sem elas, haveria o risco de ficar tudo fora de ordem. Experimentos têm mostrado que em algumas espécies, quando são separadas de seus escravos, morrem de fome, mesmo que o alimento é colocado à sua disposição. 

Uma colônia típica de 3.000 formigas escravizadoras pode ter mais de seis mil escravos trabalhando para ela. Se a colônia se move para um novo local os escravos carregam seus mestres, um por um, ao seu novo lar. 

As espécies Myrmoxenus ravouxi eChalepoxenus muellerianus estão entre as formigas escravizadoras mais comuns na Europa Ocidental. Elas usam várias espécies relacionadas como escravos, mas mostram uma preferência por Temnothorax unifasciatus.

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